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A Modernização do Setor Elétrico Brasileiro: um desafio para todos [FCR Law]

Autora: Renata Armonia – Sócia da FCR LAW

O Setor Elétrico Brasileiro está novamente nas discussões e muitas coisas podem mudar. A questão que causa maior controvérsia é o fato de que a segurança do sistema elétrico precisa ser garantida, seja em termos de suprimento seja em termos financeiros. Até este ponto todos estão de acordo, questão se complica quando há tentativas de repartir o custo, evitando que a segurança energética seja paga apenas pelo consumidor do mercado regulado.

Quando observamos a matriz energética brasileira, percebemos que 65% é composta de energia hidráulica, o que sempre nos deu muita segurança energética uma vez que a água, até hoje, é a única fonte de energia que se consegue estocar, desde que disponível o que nem sempre acontece. Por outro lado, temos novas fontes de energia intermitentes, as vedetes do sistema: eólica (8,8% da matriz) e a solar (1,7% da matriz), as quais não possuem qualquer compromisso com nosso planejamento energético.

Desta forma, sob o aspecto fonte energética, há um certo desprestígio da fonte hidrelétrica atualmente, uma vez que não se cogita novos grandes empreendimentos por razões ambientais, portanto a projeção deste setor é diminuir proporcionalmente sua participação na matriz até 2025. Dentro deste diapasão, começa a surgir um fator de incerteza: como garantir o suprimento em caso de escassez hídrica? Apenas com as térmicas? A experiência tem sido bem cara (vide as bandeiras tarifárias dos últimos meses).Uma das soluções para esta questão, é complexa explicação sobre a separação lastro de energia, ou seja, as usinas contratadas para fornecimento de energia não mais terão a sobrecontratação para fornecimento de lastro. Ou seja, hoje cerca de 10% da potência (capacidade) da usina é uma reserva de lastro. Em contraprestação a esta questão haverá a contratação de empreendimentos especificamente para a reserva de capacidade, ou seja, eles serão contratados especificamente para serem o lastro do sistema, desonerando todas as demais usinas de possuírem excesso de potência não utilizável. O primeiro leilão de reserva de capacidade já ocorreu em 2021.

Um segundo ponto, que a modernização do Setor Elétrico promete, é a libertação de consumidores cativos que consumam mais de 500 kW  (hoje só há liberdade de contratação para aqueles que consomem mais que 3000 kW). Lembramos que o mercado de contratação regulado (chamado de ACR) possui consumidores cativos, ou seja, consumidores que estão dentro de área das de concessão e que garantem o retorno dos investimentos dos empreendedores que construíram as usinas. Assim liberação para o mercado livre deverá acontecer paulatinamente em até 42 meses (de acordo com projeto de lei em andamento), para evitar instabilidade jurídica ao sistema.

Um terceiro aspecto, bastante divertido é a possibilidade de geração distribuída, ou seja, o consumidor pode se tornar um produtor, basta dispor de certo capital para criar sua microgeração em casa. Uma vez que este consumidor realize este investimento, é muito improvável que regresse ao sistema, está livre para sempre, pagando apenas tarifas mínimas pelo uso do fio.

Combinando a mudança da matriz energética que tende a utilizar mais as fontes intermitentes, com o aumento de consumidores livres e até mesmo proumidores (consumidores que produzem) está lançado o desafio de abraçarmos um sistema novo, sem gerar instabilidades, devendo sempre estarmos alertas para que interesses legítimos sejam os interesses a serem considerados nesta modernização. 

Fonte: FCR Law

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