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Agenda Bonifácio traz análise de pesquisadores da USP sobre a Independência brasileira

Redação Mundo Lusíada com Jornal USP

Marco importante para a história do País, o Bicentenário da Independência do Brasil vai ser celebrado no início de setembro, mas também ao longo de um período significativo, com muitos eventos sendo comemorados. Para registrar essa celebração, foi criada a Agenda Bonifácio, plataforma disponível na internet com programação cultural e conteúdos críticos sobre a data.

A iniciativa é da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e gerida pela Organização Social Amigos da Arte, que desde maio deste ano vem abastecendo a plataforma. O nome faz referência a José Bonifácio de Andrada e Silva, um dos personagens mais importantes da Independência, com atuação nos campos da arte, da ciência e da política.

“Ao abrigar e divulgar uma ampla programação de música, dança, artes visuais, teatro, literatura e outras áreas, a Agenda Bonifácio se propõe a ser uma grande vitrine do Bicentenário da Independência, com pluralidade e diversidade”, destacam os organizadores na apresentação da plataforma. “Assim, pretende-se estimular o engajamento, a reflexão e o espírito de pertencimento dos brasileiros em relação ao tema dos 200 anos da Independência do Brasil”, concluem.

Entre os vários conteúdos, é possível navegar por uma linha do tempo que abarca os anos de 1500 a 2022, trazendo fatos marcantes desse período na história brasileira. Vários pesquisadores e estudiosos que passaram pela USP figuram na área de entrevistas, espaço que traz personalidades elaborando reflexões importantes sobre a efeméride. Alguns deles respondem à questão lançada pela Agenda Bonifácio: “O Brasil é, de fato, um país independente?”.

Entre os uspianos, a historiadora e escritora Lilia Schwarcz, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), aborda em entrevista aspectos sobre a Independência, as heranças da escravidão no Brasil, a importância de preservar a memória de uma nação e as nuances da democracia. Em outro texto, Ynaê Lopes dos Santos, doutora em História Social pela USP e especialista em História da Escravidão e das Relações Raciais nas Américas, trata da escravidão de negros que vigorou no Brasil durante o período colonial e o império, e deixou um legado de sangue e sofrimento na história brasileira.

Mary Del Priore, que escreveu o livro As Vidas de José Bonifácio, biografia de José Bonifácio de Andrada e Silva, fala das constatações que fez ao estudar a trajetória deste personagem controverso que foi nomeado Patrono da Independência. Em outra entrevista, a historiadora Joana Monteleone, pós-doutoranda pela Cátedra Jaime Cortesão da FFLCH, analisa aspectos políticos e econômicos da época da Independência com o surgimento da moda no Brasil como um fenômeno social.

O arquiteto Eduardo Ferroni, com mestrado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, revela em sua entrevista como foi o desafio do projeto de reforma do Museu do Ipiranga, conciliando restauração da construção original com ampliação do prédio. Seu escritório, o H+F Arquitetos, vencedor da licitação para a reforma, teve um ano e meio para viabilizar as mudanças, num esforço que envolveu cerca de 200 profissionais de várias áreas.

Heróis e curiosidades da Independência

O site também apresenta algumas curiosidades que marcaram o processo de separação de Portugal e uma delas é a sequência de decretos que culminou na proclamação da Independência por Dom Pedro I. O primeiro deles, na verdade, foi assinado por Maria Leopoldina, em 13 de agosto de 1822, quando ela foi nomeada Chefe de Estado e Princesa Regente interina, por motivo de viagem do príncipe para resolver pendências políticas. Ao perceber a pressão da corte depois que o marido se recusou a voltar para o país natal, ela convocou o Conselho de Estado do Rio de Janeiro e assinou, em 2 de setembro, mais outro decreto que declarava o Brasil oficialmente separado de Portugal.

Na seção Outros Heróis é possível conhecer trajetórias de pessoas pouco lembradas no processo histórico, como, por exemplo, muitas mulheres pioneiras que deixaram um legado de resistência e bravura. Uma delas é Maria Felipa, importante nome no movimento de independência da Bahia.

A Agenda Bonifácio possibilita a divulgação de eventos em âmbito nacional relacionados ao tema. Para compartilhar informações e divulgar seu evento, basta acessar o formulário ou escrever para contato@agendabonifacio.com.br

Acompanhe a programação da Agenda Bonifácio pelo site https://agendabonifacio.com.br.

O Sequestro da Independência

Entre um dos destaques no site está a exposição O Sequestro da Independência.

Quando o tema é independência do Brasil, a primeira imagem que vem à mente é sempre a mesma: o famoso quadro de Pedro Américo, que ocupa lugar de destaque no Museu Paulista, no bairro do Ipiranga. A obra, que acaba de passar por restauro e, em breve, poderá ser vista com a reabertura do prédio histórico, foi perpetuada por anos como a que melhor retrata o evento do grito emancipatório brasileiro.

A fim de desmistificar o ‘fiel retrato’ e ampliar as lentes de quem analisa imagens que se tornaram referências históricas, entrou em cartaz a exposição O Sequestro da Independência, recém-aberta na Galeria Arte132, em São Paulo.

A mostra é homônima ao livro recém-lançado pela Companhia das Letras, escrito por Lilia Schwarcz, Lúcia K. Stumpf e Carlos Lima Jr, que narra a construção visual do mito do 7 de setembro. “A ideia do livro é mostrar que muitas vezes uma nação se imagina a partir de uma tela e que ela pode ser totalmente imaginária”, ressaltou Lilia na abertura da exposição, a qual assina a curadoria com os outros dois escritores.

A Agenda Bonifácio acompanhou a visita guiada pelo núcleo curatorial, que explicou como a independência do Brasil foi ‘sequestrada’ ao longo de dois séculos. E isso é contado por uma narrativa imagética que, por óbvio, parte do Independência ou Morte, pintura dissecada logo na entrada da galeria – com a reprodução da tela original, os estudos que a originaram e a capa de um periódico de 1889, que a coloca já como a imagem real. “Ela foi encomendada por Pedro II e pela comissão do Ipiranga para, de alguma forma, enaltecer a monarquia e refundar a figura de Pedro I, que saiu do Brasil com grande impopularidade. Afinal, ele impôs uma constituição e dissolveu os movimentos da sociedade civil de uma maneira muito violenta”, explica Lilia.

Tanto no livro quanto na exposição, a ideia é mostrar que a famosa data, até então, não era conhecida como a da independência. “Até 1827 ninguém falava do 7 de setembro às margens do Ipiranga. A primeira pessoa a falar disso é Pedro I, que vai divulgar, no momento que vai cair – renuncia em 1831 – e divulga essa versão do seu protagonismo. Até então a independência era celebrada no Rio de Janeiro, em 12 de outubro, data da aclamação e sagração de Dom Pedro. Sete de setembro vai ganhar muita força com esta tela, para vocês verem como as telas não são decorrência, são causa”, completa a curadora.

Fonte: Mundo Lusíada

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