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Artigo: Bicentenário da Independência do Brasil

Data evidencia excelente relação entre portugueses e brasileiros nas mais variadas áreas 

Em 7 de setembro de 2022, o Brasil completa 200 anos como nação independente. A data marca um importante processo singular histórico para o país, mas também serve para lembrar o valor estratégico dos vínculos seculares que unem Brasil e Portugal, bem como evidenciar as oportunidades de desenvolvimento da relação entre ambos, nas mais variadas áreas. Afinal, são mais de 500 anos de intensa e riquíssima história. E, atualmente, os países estão mais unidos do que nunca. Por isso, a data é uma oportunidade de promover ações e parcerias estratégicas que reforcem os laços que unem os dois territórios.

Tudo começou com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, em novembro de 1807, e a chegada da família real portuguesa, em janeiro de 1808. Essa mudança transformou o Rio de Janeiro na capital do Reino de Portugal. Com isso, transformações profundas começaram a acontecer no Brasil, tanto em aspectos político-econômicos quanto socioculturais. Todas elas, mais o contexto histórico da época, contribuíram para a independência do Brasil.

Segundo Francisco Ribeiro Telles, Secretário Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa entre 2019 e 2021, em nenhum outro lugar os portugueses foram capazes de criar um modelo de relacionamento e de integração local como o que se gerou no Brasil ao longo dos tempos. “Esse é o magnífico patrimônio da luso-brasilidade”, afirma o Secretário. 

Nuno Rebelo de Sousa, Presidente da Câmara Portuguesa de São Paulo e Vice-Presidente da Federação das Câmaras Portuguesas no Brasil, concorda que as relações entre Brasil e Portugal só cresceram ao longo dos séculos, sempre como países irmãos, unidos pelo trabalho, pela educação e vontade mútua de se conhecerem cada vez mais. “Hoje os países estão muito unidos, em especial na última década, período em que houve uma maior convivência e troca de fluxos sociais, econômicos e culturais entre ambos, com a descoberta pelos brasileiros de um Portugal do século 21”, comenta. 

Nada mais justo do que recordar que os brasileiros foram os que mais cedo notaram essa mudança de Portugal e através do melhor sistema de comunicação e promoção – o famoso boca a boca – conseguiram ser os grandes impulsionadores do turismo, da emigração e do investimento e empreendedorismo de qualidade de fora da Europa. “Hoje, Portugal é orgulhosamente o segundo destino dos brasileiros com 1,3 milhão de visitantes, perdendo apenas para os Estados Unidos. O número de emigrantes estrangeiros cresceu de tal forma, sobretudo na faixa etária dos 20 aos 44 anos, que a pirâmide etária portuguesa pela primeira vez está se reequilibrando”, ressalta Nuno Rebelo de Sousa.

Investimento brasileiro em Portugal

Nos últimos cinco anos, o investimento de Portugal no tocante ao ecossistema de empreendedorismo e startups alcançou € 436 bilhões, o que representa cerca de 1,2% do PIB português. O país tem cerca de 3.500 startups, sendo 80% estrangeiras. Na indústria há atualmente 33% de tecnologia, 17% B2B, 12% B2C e consumer, 9% fintechs, 8% bio e health sciences, 5% media e entertainment, 4% turismo e lifestyle e 4% têxtil e manufatura. São mais de 50 fintechs brasileiras com autorização da CVM e do Banco de Portugal para atuarem nesse novo mercado em expansão. Esses setores representam bem o que é hoje a grande aposta de Portugal, junto com o turismo, que representa quase 15% do PIB português se olharmos em termos agregados. 

Atualmente, existem mais de 100 empresas brasileiras operando em Portugal, entre elas Nubank, Stone, WEG,Loggi, Alpargatas, Globo, Record, O Boticário, além de Embraer e CSN. Se olharmos para o Programa Portugal 2020,que distribuiu a investidores de todo o mundo um montante de € 19,1 bilhões entre 2014 e 2020, de um total de € 30,7 bilhões aprovados e orçamentados, cerca de 20% dos projetos submetidos eram de investidores brasileiros. Em termos de Golden Visas atribuídos nos últimos anos, o Brasil aparece em segundo lugar, perdendo apenas para a China.

“Em suma, nos últimos anos o universo privado brasileiro foi mudando paulatinamente dos EUA, sobretudo Flórida, para a Europa, com especial enfoque em Portugal, por vários fatores como língua, segurança, educação, saúde e, também, como forma de internacionalizar os negócios para a Europa, tendo o território lusitano como porta de entrada e expansão global”, comemora o presidente da Câmara Portuguesa.

Um exemplo muito peculiar dessa expansão é a Global Trading Company (GTC). A GTC produz artigos têxteis, sobretudo jeans, no interior de Pernambuco, e abriu operação em Braga, Lisboa e Sines, concorrendo com imenso sucesso com mais de uma centena de empresas têxteis chinesas para avançar sobre os mercados da Europa, do norte da África e Médio Oriente, e expandindo as suas operações para a moda praia, mostrando ao mundo que o Brasil tem condições competitivas em vários segmentos que muitas vezes ainda não aparecem nas exportações brasileiras.

Segundo Rebelo, o sul e o nordeste brasileiros têm grandes empresas têxteis e calçadistas que ainda não se internacionalizaram para a Europa e Médio Oriente. Vê-se que ainda há muito a fazer para convencer os grandes e médios empresários brasileiros que Portugal pode desempenhar um papel decisivo na sua estratégia de internacionalização. “O Brasil produz milhares de marcas de sucesso todos os anos, mas o total de franquias brasileiras na Europa ou mesmo em Portugal é ainda muito reduzido. Em Portugal, o número de franquias brasileiras representa menos de 5% do mercado total de franquias”, salienta.

O Presidente ainda lembra de uma nova grande área em que há elos entre os dois países: o agrotech, o agrobusiness e a tecnologia aliada à agricultura. O Brasil é hoje uma das maiores potências mundiais no setor, principalmente nas grandes propriedades; enquanto isso, Portugal se especializou em agricultura de precisão, ou seja, de menores dimensões territoriais, mas com produtividade elevada, como uvas, azeitonas, tomates e castanhas. Nesse campo, Portugal e Brasil já têm um grande
projeto em conjunto, nascido há cinco
anos, com objetivo de tornar Portugal o
maior produtor de amêndoas na Europa, com plantações de cinco mil hectares entre Portugal e Espanha e investimento total estimado de € 100 milhões.
Trata-se do projeto Vera Cruz, desenvolvido por dois empreendedores, um português e um brasileiro, reconhecido pelo governo português como projeto de interesse nacional (PIN). A iniciativa é uma das precursoras do investimento estrangeiro na área de agrotech em Portugal. Mais recentemente diversos fundos ligados ao agrobusiness mundial, principalmente dos EUA e Austrália, passaram a investir mais nesse setor em Portugal, entendendo o potencial para desenvolver projetos inovadores e atender ao mercado europeu. 

O papel das Câmaras

 Para Rebelo, nesse cenário, as câmaras bilaterais de negócio, junto com as agências de investimento de ambos os países têm um papel muito relevante. “Nos últimos anos, houve uma aproximação e colaboração de todas as agências de investimento dos países da
Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que trará frutos muito relevantes no futuro”, comemora.

Segundo ele, esse é um horizonte animador e trará inclusive novos importantes programas de apoio público, como o Portugal 2030 e um conjunto de 12 programas do governo português com a Comissão Europeia que têm como objetivo distribuir incentivos e empréstimos num valor global de € 24,2 bilhões entre 2021 e 2027 para fomentar o investimento produtivo em Portugal. Esses programas já estão em preparação e devem abrir editais específicos ainda em 2022.

Vale ainda mencionar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), recentemente apresentado pelo governo português, e um programa de aplicação exclusivamente nacional (em Portugal), que visa implantar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento econômico sustentado após a pandemia mundial e tem um período de execução até 2026. Esse plano está estruturado em três dimensões, com os respectivos orçamentos: € 11,1 bilhões para resiliência; € 3,1 bilhões para transição climática e € 2,5 bilhões para transição digital.

“E é nesse Portugal que o povo brasileiro já conseguiu criar a segunda maior comunidade de emigrantes e, mais importante, com uma influência fortíssima no desenvolvimento de uma cultura mais otimista e alegre com criatividade e maior afetividade”, enfatiza o Presidente.

Mas de acordo com ele, há ainda uma boa margem para aumentar a cooperação entre os países irmãos, sobretudo em nível estadual, onde a reciprocidade diplomática está bastante aquém daquilo que são os movimentos dos milhares de brasileiros que rumam a Portugal, apesar das mais de 50 visitas oficiais realizadas pelos governantes portugueses ao Brasil nos últimos anos.

“Mas como nunca é tarde para fomentar uma nova política de maior confluência institucional e política entre os dois países, é importante assinalar que em março de 2022, o Brasil nomeou um novo embaixador em Portugal, Raimundo Carreiro, que já iniciou esse percurso de forma muito exemplar. As expetativas de ambos os países ganharam novo fôlego com essa indicação, acompanhada pelo chanceler do Itamaraty Carlos França, que não tem medido esforços para o sucesso dessa nova fase, ainda mais com a responsabilidade muito grande em torno das comemorações do bicentenário da independência do Brasil”, lembra.

Segundo Rebelo, do lado português tem havido um investimento no desenvolvimento de um programa de comemorações muito vasto, culminando no Dia da Independência, em 7 de setembro, com múltiplas comemorações em várias cidades brasileiras, com destaque para Brasília, e a inauguração do Museu da Independência, em São Paulo. Mas para o Presidente isso é apenas um aperitivo, visto que Brasil e Portugal estão muito além dos laços históricos. “Há um futuro de inovação e oportunidades para trilhar, cada um à sua maneira. Mas sempre como países irmãos”, finaliza. 

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